Como os brasileiros percebem as desigualdades brasileiras e suas principais consequências? Quais políticas públicas podem reduzir essas desigualdades e tirar o Brasil do vergonhoso posto de um dos 10 países mais desiguais do mundo? Qual a expectativa em relação ao papel do governo e do Estado na redução das desigualdades? Esses e outros muitos tópicos foram debatidos na última terça-feira (9/4) no teatro Tucarena, da PUC-SP, no seminário Nós e as Desigualdades, que organizamos para discutir os resultados da pesquisa de opinião que fizemos em parceria com o Instituto Datafolha, lançada no dia anterior (8/4).
Acesse aqui a pesquisa e nossa análise sobre os resultados.
Cerca de 300 pessoas foram ao Tucarena ouvir os palestrantes convidados a discutir dois temas centrais: as desigualdades no imaginário brasileiro e políticas públicas para redução de desigualdades. Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil, e Oded Grajew, presidente do Conselho Deliberativo, reforçaram a importante dos temas para o debate nacional e celebraram o grande interesse do público presente.
“Nós somos um país que estabeleceu cidadãos e cidadãs de primeira e segunda categoria, isso é inaceitável numa sociedade”, disse Katia Maia, na abertura do evento. “As desigualdades precisam ser enfrentadas para que possamos ter um país mais justo, solidário e igualitário. Enquanto pessoas foram discriminadas pela sua raça, pelo seu gênero, pela sua orientação sexual ou pelo seu endereço, nós estaremos construindo um país que não é para todos e todas.”
Para Oded, não é normal que 5% da população tenha a mesma renda dos 95% restantes nem que homens e mulheres negros sejam discriminados. “As diferenças de salários, de relações ente entre homens e mulheres, negros e brancos só mudam quando deixamos de achar que isso é normal. Aí alguma coisa vai acontecer.”
Os resultados da pesquisa e sua análise primeira foram apresentados por Rafael Georges, nosso coordenador de campanhas. “Esse estudo tem uma importância central para o debate que está sendo feito no Brasil sobre a questão fiscal, as contas públicas e quanto dinheiros o Estado tem para dar em saúde, educação, assistência para quem mais precisa”, disse ele durante sua apresentação.
Alguns dos principais números da pesquisa:
* 86% creem que o progresso no Brasil está condicionado à redução de desigualdade entre pobres e ricos.
* 57% não acreditam que as desigualdades diminuirão nos próximos anos.
* 2 em cada 3 brasileiros elegem ‘fé religiosa’, ‘estudar’ e ‘ter acesso à saúde’ como as três principais prioridades para uma vida melhor.
* 64% concordam que o fato de ser mulher impacta negativamente a renda.
* 52% concordam que negros ganham menos por serem negros.
Mediado por Tauá Pires, coordenadora de programas da Oxfam Brasil, o primeiro painel do seminário contou com a participação do documentarista Henry Grazinolli, da pesquisadora Esther Solano e do professor Jailson de Souza e Silva, diretor da Universidade Internacional das Periferias. “Estamos falando de uma estrutura sistemática de reprodução de desigualdades. Nossa questão fundamental não é que as pessoas não tem consciência das desigualdades, o problema fundamental é que elas naturalizam as desigualdades e vêem nas ações individuais as alternativas para resolver esse problema”, afirmou Jailson.
Para Esther Solano, a pesquisa revelou algo importante em relação às expectativas dos brasileiros com o papel do Estado. “As pessoas querem Estado, isso ficou evidente nas respostas sobre universalização dos serviços de educação e saúde, mas nós estamos perdendo a narrativa com o público. A narrativa que está vencendo é a do Estado mínimo, da individualização e do mérito. Essa é uma preocupação grande para mim.”
Henry Grazinoli pontuou que é preciso saber ‘furar a bolha’ para alcançar um maior número de pessoas e ser efetivo na mensagem. “Contar histórias é extremamente transformador no processo da comunicação. É preciso fazer com que as pessoas sintam o problema sobre o qual estamos falando.”
O segundo painel, sobre Políticas Públicas para Redução de Desigualdades, foi mediado pela jornalista da TV Cultura Adriana Couto e contou com a participação da economista Luana Passos, da cientista política Marta Arretche e da jornalista Flávia Oliveira.
“É fundamental pensar políticas públicas sob a luz das desigualdades. Eu acho que a partir dai é que a gente vai conseguir efetivamente combater esses níveis tão absurdos de desigualdades.
Tem que carimbar o gasto orçamentário em benefício dos mais prejudicados pelo tamanho dessas distâncias, basicamente mulheres e negros, mas, sobretudo, mulheres negras.” comentou Flávia.
A cientista política Marta Arretche defendeu a importância do salário mínimo num país como o Brasil. “O que tem sustentado famílias nesses tempos de crise são as aposentadorias e pensões. Assim, o salário mínimo foi importante tanto pro crescimento quanto pra evitar aprofundamento social da crise.”
O seminário terminou com uma apresentação musical do grupo Acústica Periférica, formado por coletivos que fazem parte do projeto Juventudes nas Cidades, uma parceria da Oxfam Brasil com diversas organizações. “É muito importante discutir sobre o imaginário dos brasileiros sobre as desigualdades, sobretudo para nós, pretos e periféricos, que somos os mais massacrados. Nossa principal pauta hoje é o direito à vida.” disse a vocalista Patrícia Meira.
Confira a íntegra do evento: