“Esse filme é consequência da minha trajetória enquanto diretora negra. Eu quis trazer o olhar de uma mulher negra sobre a geografia de uma cidade tão desigual como São Paulo.” Assim a diretora Day Rodrigues abriu o debate do filme Uma Geografia das Desigualdades, lançado terça-feira (30/7) para um público que lotou a Livraria Tapera Taperá na região da República, em São Paulo.
Tendo a arquiteta e urbanista Joice Berth como protagonista, o filme nos leva a uma reflexão sobre como as desigualdades se dão no meio urbano e como recaem especialmente sobre quem está na base da pirâmide social: as mulheres negras. Como relevou nosso relatório País Estagnado, a equiparação de renda entre negros e brancos está estagnada. Entre 2016 e 2017, os brancos mais ricos tiveram ganhos de rendimentos de 17,35%, enquanto negros incrementaram suas rendas em apenas 8,1%. Quando analisamos a situação das mulheres negras essa distância é ainda maior.
“Ver tanta gente interessada em debater as desigualdades é algo muito importante, principalmente sob o ponto de vista das mulheres negras. Precisamos falar sobre as desigualdades discutindo a realidade e como a vida das pessoas são afetadas com esse desequilíbrio. O filme é um convite para falar menos sobre números e mais sobre as pessoas”, afirmou Tauá Pires, coordenadora de Programas da Oxfam Brasil.
Veja aqui como foi o debate.
O debate abordou principalmente a questão dos lugares de poder na sociedade, com foco no espaço urbano. Joice Berth, frisou sobre como a questão racial é nítida nos espaços urbanos a medida que temos claramente espaços negros e brancos nas grandes cidades. Enquanto as áreas nobres são predominantemente brancas, os negros estão em sua maioria nas periferias. Ainda que não existam barreiras físicas, o discurso de poder delimita a cidade espacialmente.
A urbanista ressaltou que essa é também uma questão econômica, uma vez que a renda está concentrada nessas áreas nobres. Isso diz respeito à oferta de empregos, serviços públicos e moradias dignas. Sobre soluções, Joice é categórica: “não se pode exigir soluções simples para uma questão tão complexa”, reforçando de que essa é uma construção social coletiva.
Outro assunto muito presente na conversa foi sobre o papel das pessoas brancas na luta antirracista. Day Rodrigues falou sobre a necessidade individual e cotidiana de pessoas brancas pensarem sobre o racismo que reproduzem. No meio da arte, especificamente do cinema, essa é uma questão ainda mais presente. Ela contou sobre o desgaste em ter que lidar com o racismo e o machismo na profissão, além de, por muitas vezes, ficar limitadas a tratar de temáticas ligadas às suas próprias dores.
A diretora explica que a pauta da diversidade toma sempre por base o estereótipo do homem branco como sendo o normal, ou seja, a definição parte sempre desse espaço de poder. Descontruir essa lógica passa pela tarefa das pessoas brancas enxergarem seus próprios privilégios.
Confira o teaser de Uma Geografia das Desigualdades:
Para assistir à íntegra do filme: