Uma comissão internacional independente irá revisar as políticas, práticas, a cultura e a responsabilização da Oxfam relativas a casos de abuso sexual e de poder. A medida faz parte de um plano de ação com dez pontos que buscam fortalecer os sistemas de salvaguarda contra abusos e propiciar uma transformação organizacional.
O plano foi acordado ontem pelos diretores executivos das vinte afiliadas em conjunto com a diretora executiva da Oxfam Internacional, Winnie Byanyima. Algumas das medidas do plano de ação:
• Criação de uma comissão internacional independente de alto nível sobre assédio e abuso sexual, responsabilização e mudança de cultura, formada por especialistas e lideranças em direitos das mulheres, que poderá acessar os arquivos da Oxfam e entrevistar membros da equipe, parceiros e comunidades com as quais a organização trabalha pelo mundo;
• Criação de um banco de dados global da organização com as pessoas autorizadas a dar referências profissionais, para acabar com o uso de referências forjadas ou informais por membros antigos ou atuais da Oxfam. A organização não dará quaisquer referências até que esse banco de dados esteja em funcionamento;
• O aumento de recursos humanos e financeiros para os processos de salvaguarda da Oxfam;
• Compromisso em melhorar a cultura na Oxfam para assegurar que ninguém sofra abuso, discriminação ou assédio, que todos – principalmente as mulheres – se sintam seguros a relatar casos, e que todos saibam qual comportamento é aceitável ou não.
VEJA AQUI A ÍNTEGRA DO PLANO DE AÇÃO.
A Oxfam também se compromete a publicar, o quanto antes, sua investigação interna de 2011 sobre membros de sua equipe envolvidos em más condutas sexual e de outros tipos no Haiti. Isso será feito depois dos passos necessários para proteger a identidade de testemunhas inocentes. Os nomes das pessoas envolvidas já foram compartilhados com as autoridades do Haiti.
Leia aqui nosso comunicado sobre o caso ocorrido no Haiti.
Segundo Winnie Byanyima: “Evidentemente palavras não são suficientes. Acordamos um o plano de ação, juntamente com os diretores executivos das afiliadas da Confederação Oxfam, que se dobrará o número de pessoas que trabalham com a salvaguarda daqueles aos quais servimos. Também pedimos a especialistas em direitos das mulheres que liderem uma comissão independente para verificar nossas operações e nos dizer o que precisamos mudar em nossas práticas e cultura. E estamos criando uma nova base de dados de pessoas autorizadas a dar referências.”
Para Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil, os casos de abuso sexuais denunciados pela imprensa internacional nos últimos dias são “revoltantes e inadmissíveis”. “Estamos perplexos com os fatos divulgados. Precisamos reconhecer nossos erros mas principalmente trabalhar firmemente para que eles não se repitam.”
Katia lembra que a Oxfam é uma organização com longa trajetória – mais de 70 anos com atuação em cerca de 90 países – e que os seus mais de 10 mil funcionários e 50 mil voluntários trabalham incansavelmente em áreas de emergência, catástrofe e conflitos atendendo a milhões de pessoas. “No último relatório de atividades da Oxfam (2015/16), foram 22 milhões de pessoas atendidas nesses países, por diferente projetos e ações. Atualmente estamos atuando em trinta países em situação de emergência, seja por conflito ou desastres naturais. São milhares de pessoas colocando suas vidas em risco para salvar em outras vidas. Essa Oxfam vai além dos erros cometidos por uma minoria.”
Winnie afirma ainda que a comissão de alto nível vai operar juntamente com a Oxfam e determinar seu próprio alcance e termos de referência. A Oxfam vai providenciar os recursos necessários para que o trabalho seja feito por toda a Confederação, incluindo acesso total a arquivos e membros da equipe, bem como parceiros e comunidades apoiadas pela organização.
“Como parte do trabalho dessa Comissão, vamos criar um arquivo histórico sobre casos de abusos sexuais e de poder, que será o mais completo possível, que estará disponível ao público.”
Katia Maia lembra que a Oxfam é uma organização com história. “E é baseada nessa história e na sua capacidade de reconhecer seus erros que vamos construir a Oxfam do futuro.”
Nota aos editores: No ano passado (2016/17), a Oxfam respondeu a 31 emergências em todo o mundo, assegurando que mulheres, homens e crianças tenham o essencial para sobreviver. No total, a Oxfam providenciou apoio emergencial a 8,6 milhões de pessoas atingidas por desastres naturais e em áreas de conflito.