Como parte das atividades do julho das pretas, mês em que se comemora o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha (25/7), quarenta ativistas cis, trans e travestis que se candidataram nas eleições municipais de 2020 assinam e divulgam o manifesto Carta Preta – A Política Que Queremos à sociedade brasileira afirmando que sua participação na política brasileira é “emergencial, essencial e necessária” e que a democracia brasileira, para representar bem o povo brasileiro, precisa ter o rosto de mulheres negras.
“Estamos enegrecendo a política. Não existe democracia com racismo e não existe uma política brasileira com a cara do povo que não tenha o rosto das mulheres negras. Estamos rompendo com as estruturas, e viemos para ficar.”
As 40 mulheres negras que assinam a carta participaram entre abril e maio deste ano do projeto Jornada das Pretas, iniciativa da Oxfam Brasil em parceria com o Instituto Alziras e Instituto Marielle Franco, que teve como objetivo sistematizar suas experiências nas eleições municipais de 2020 e construir uma agenda política para potencializar suas candidaturas nas próximas eleições de 2022.
A carta reafirma o compromisso das ativistas contra a desigualdade e a opressão racial no país e critica o machismo e racismo estrutural que vigoram nos partidos políticos brasileiros.
“Somos mulheres cansadas de sermos silenciadas. Mas agora estamos prontas para ocupar esse espaço de decisão que sempre nos foi negado”, afirmam as signatárias, lembrando que a estrutura política brasileira privilegia o homem branco na distribuição dos recursos partidários – as mulheres negras recebem 10 vezes menos de verba partidária do que os homens brancos.
Leia aqui a íntegra da Carta Preta – A Política Que Queremos
Mulheres negras e as eleições 2020
As mulheres negras estão na linha de frente do enfrentamento das desigualdades no Brasil e o seu ativismo e participação na política institucional evidenciam a importância de fortalecer suas ações. As eleições de 2020 foram marcadas pelo significativo aumento do número de candidaturas negras e LGBTQIA+ em todo o país e a votação que essas candidaturas obtiveram foi expressiva – 13 mulheres negras e três mulheres transexuais conseguiram figurar entre as 10 candidaturas mais votadas nas grandes capitais do Brasil.
No entanto, das 88 mil candidaturas de mulheres negras que participaram das eleições de 2020, apenas 4,54% (pouco mais de 4 mil) foram eleitas. Isso mostra que há ainda grandes desafios para aumentar a representatividade política das mulheres negras e LGBTQIA+ e garantir o acesso dessas mulheres no espaço de decisão política.