Nos dias 1 e 2 de abril, o Sesc Interlagos recebeu o curso “Racismo Ambiental, Justiça Climática e a Comunicação nos Territórios à Margem”, que teve como objetivo aprofundar pautas socioambientais por meio de práticas e estratégias do jornalismo e da comunicação não hegemônica, presentes nos territórios à margem dos direitos.
A atividade, realizada pelos coletivos de comunicação Periferia em Movimento (SP), Desenrola e Não Me Enrola (SP), Frente de Mobilização da Maré (RJ), Rede Tumulto (PE), Mojubá Mídias e Conexões (BA), TV Comunidades (MA), TV Quilombo (MA), Coletivo Jovem Tapajônico (PA), GT de Jovens comunicadores da CONAQ e Fala Roça (RJ), contou com os apoios da Oxfam Brasil, Consulado Geral do Canadá, Fundação Tide Setubal e Sesc. O curso faz parte de uma ação estratégica de fortalecimento da coalizão formada por esses grupos em prol da educação em mídia ativismo nas agendas de justiça climática e racismo ambiental.
A descentralização do debate público sobre Racismo Ambiental e da Justiça Climática foi o foco dos debates, destacando iniciativas de comunicação periférica, indígena, quilombola e favelada e como elas podem ecoar o tema em seus territórios para apoiar a implantação de políticas que fortaleçam ações de educação e midiativismo, difusão de conteúdo de mobilização no contexto da cidadania digital e da participação social.
Saberes da população preta
Barbara Barboza, oficial de projetos da área de Justiça Racial e de Gênero na Oxfam Brasil, esteve presente no evento e falou da importância deste espaço de troca como uma forma de utilizar os saberes da população preta, quilombola e periférica, a favor delas próprias.
“Essa roda serve para pensarmos a estratégia de fuga de um sistema que está enquadrando a gente em muita coisa, e precisamos desenquadrar, para pensarmos em cada diferença que temos e definirmos nossa estratégia de luta. É preciso entender como o racismo ambiental e a justiça climática pegam na gente, para que possamos formar nossa estratégia de contribuição para esse coletivo.”
Nathalia Fernandes Purificação, jovem comunicadora da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos), participou da formação. Para Nathalia, o encontro proporcionou com que ela se deparasse com a forma como o racismo ambiental é debatido dentro do meio urbano, já que para as pessoas quilombolas o tema é debatido sobre uma outra perspectiva.
“No início da atividade a proposta foi falarmos sobre a nossa perspectiva do racismo ambiental. E logo de cara fui uma das primeiras pessoas a falar, e falei sobre os dados de titulação que temos, os dados de territórios quilombolas”, afirmou Nathalia. “A galera foi falando sobre poluição, alagamentos e etc, assuntos que são mais ligados à cidade. E eu percebi o quanto estava limitada à minha realidade, porque para o quilombola da água, do campo e da floresta, falar de racismo ambiental é falar de demarcação de terra.”
Natália também diz que as pessoas quilombolas pensam em racismo ambiental numa perspectiva de sobrevivência:
“Falar desse desmatamento, falar da minha comunidade onde, por exemplo, as empresas do agronegócio estão matando a mata ciliar do Rio São Francisco, e o rio é o abastecimento daquele lugar, a gente depende do que tá ali, do peixe que é criado ali.”
A Conaq é uma das organizações idealizadoras da campanha “Tem Floresta em Pé, Tem Mulher”, que será lançada no segundo semestre de 2023, e tem como objetivos visibilizar e fortalecer o trabalho das mulheres negras defensoras das águas e das florestas. A campanha conta ainda com o Miqcb (Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, o CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas) e a Oxfam Brasil. A participação de Nathalia no encontro contribuirá com as estratégias de disseminação da campanha.