Refúgio contra a pandemia na música e na escrita
Mulher negra de 27 anos, Jainah Souza mora com seus filhos, de 2 e 10 anos, em Ceilândia, no Distrito Federal. Antes, morava com a família em um lar abusivo do qual conseguiu sair com a ajuda de amigos. Antes da pandemia, ganhava seu sustento vendendo doces e como trançadeira. Hoje, só recebe um ou outro cliente para trançar cabelo — e ela faz o serviço com medo de se contaminar.
Jainah sobrevive hoje com uma pensão de menos de 1 salário mínimo que seus filhos recebem do pai. Conta também com o apoio de organizações locais e cestas básicas distribuídas na região. “Mas não é suficiente. A comida acaba no meio do mês, e eu tenho que me desdobrar para me manter e manter minha família.”
A jovem, que antes da pandemia fazia acompanhamento psicológico e recebeu um diagnóstico de princípio de Transtorno Bipolar, afirma que tem sido muito difícil ficar isolada com duas crianças em casa. As vezes sai para caminhar com elas, mas sempre com medo de contaminação. “É impossível evitar que elas toquem em objetivos e lugares. Dá um medo grande.”
Para passar o tempo, Jainah tem buscado refúgio na música e na escrita. E aguarda dias melhores, ainda que saiba que as medidas de retomada da economia não vão ajudar muito os mais pobres. “Nós sempre somos os mais prejudicados.”